O DEFORMADOR
PROFISSIONAL
Da
pacem Domine
- Arvo Pärt
Na velha Cidade da Língua
rodeada de muros e muralhas
andavam todos sossegados
sentados nos seus confortáveis
e macios sofás de certezas
esticavam as cansadas
pernas
esticavam os doridos
braços
os olhos de tanto ler
a língua de tanto ver
e cansados lá ficavam
imóveis
dias meses anos
E descansados ganharam mais certezas
umas atrás das outras
certezas inabaláveis
umas sobre as outras
escritas
com letras que se uniam. Intocáveis!
E assim
chegado o deformador
deformando o verso a palavra
fez cair do sofá
mil
de uma vez
dez
mil de outra vez
deformou tanto que lhes
deformou as certezas
o sono
o corpo.
Nada era já certo. Tudo se movia.
E a língua já não era língua!
Arrastou
por toda a velha Cidade da Língua
a “velha rameira” de Baudelaire
Consagrou-a
novo
sangue
à terra.
Sagrada
e renovada a terra
foi asfixiado durante o sono.
Nada nunca foi certo. Tudo se move.
E a língua nunca foi esta língua!
Consagrada a cidade
com duplo sangue
toda a Terra floriu.
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