NOTAS DE REGRESSO

#1 CONSERVADORISMO / NECROMANCIA / TEIA Estou há três meses em S. Miguel, Açores. Nestes meses, tudo o que tenho visto, lido nos jornais insulares, ouvido e presenciado não me tem espantado. Nada! Tudo já era esperado. As duas palavras que melhor definem tudo isto são as seguintes: Conservadorismo e Necromancia. A primeira, apesar de alguns aspetos negativos, tem muitos outros positivos, sobretudo o conservar da História e de alguma Cultura Insular. Já a segunda, a Necromancia, só apresenta aspetos negativos, pois ela está ligada a todas as formas de bloqueio. Bloqueio ao dinamismo, bloqueio à pluralidade, bloqueio à diversidade e, em última instância, bloqueio à própria noção dinâmica de Cultura. Os necromantes utilizam a desculpa da necessidade de preservar a História e a Cultura Insular para bloquear qualquer entrada de novas ideias e/ou estéticas. Vivem agarrados a um gosto fora de moda, um gosto, podemos dizer, decadente, um que insiste na repetição de fórmulas ultrapassadas, em estéticas que já não acrescentam nada de novo. É o mesmo que repetir uma fotocópia atrás de outra fotocópia vezes sem conta. O Necromante é por natureza um ser bizarro e possui uma dupla face. Por um lado bloqueia a mudança que é recomendada, desejada, e por outro lado, apoia muita porcaria insular, é o vender cascalho como se fosse ouro. Para quem tem olho, facilmente identifica aquilo que é bom e aquilo que não presta, isto é um facto! Um verdadeiro facto! Isto não quer dizer, contudo, que tudo seja mau ou muito mau, não. Não é isto! Falo apenas dos que exercem a Necromancia. O Necromante, por natureza, é um ser que sofre de uma distorção de perspetiva, ele distorce a perspetiva em seu benefício, em função do seu próprio ego. Não vê além dele próprio. Não vê a sociedade, não vê o que lhe rodeia, não vê a construção de algo maior do que ele. O Necromante só se importa com o seu ego. Mas, além destas duas palavras, existe uma outra muito importante, existe a palavra Teia. É através de uma micro teia social que os necromantes exercem o seu conservadorismo e os seus bloqueios. O conservadorismo, per si, como já se disse, não é algo totalmente negativo, ele é até necessário para a sobrevivência de determinadas culturas. Mas os bloqueios dos Necromantes não! Os Necromantes numa primeira fase, regra geral, bloqueiam tudo aquilo que não compreendem para passado décadas (quando vier o verdadeiro beijo) pegarem naquilo que inicialmente bloquearam. Continuamos a ser uma sociedade conservadora, cheia de tiques de aristocracia e com uma enorme falta de interesse, e também de conhecimento. É nesta poeira que ainda vão existindo, aqui e ali, alguns pontos de luz, aqueles que tentam, com o seu trabalho, contribuir para uma mudança qualitativa. Os necromantes, como bem sabemos, detestam a luz! Como mudar ou melhorar isto? Denunciar! Denunciar nem que seja pelo grito! Propor mudanças, ensinar! Insistir e insistir! Insistir sempre foi um lançar de sementes à terra. #2 Continua a faltar pensamento crítico. Continua a faltar uma Escola Superior de Belas-Artes nos Açores. Continua a faltar um Museu Contemporâneo com coleção permanente. Continua a faltar convergência entre instituições. Continuam as lutas partidárias – cães versus gatos – que só prejudicam os Açorianos e a Cultura. Continua a não haver Interartes, Historia da Arte, Literatura Comparada… na Universidade dos Açores. Continua a ideia de que a Literatura é mais importante que as Artes plásticas, e sua separação. Continua a importação de artistas estrangeiros só porque sim. Continua a retórica de sempre. Continua a eterna confusão entre retórica e inteligência. Continua tanta coisa “degradante” que já perdi a conta. Mas também continua a Esperança (com e sem Anthero!). Vítor Teves 27.11.2020 / 1 versão



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