O SENHOR COGITO MANDA
TELEGRAMAS À CRÍTICA
“Telegramas com Telegramas
se pagam” – Raul Milhafre
“Belzebu apoia as Artes”
- Zbigniew Herbert
Telegrama 1
Frente ao texto, qualquer texto (a pintura é também
um texto), por mais grotesco que seja, despir tudo,
sobretudo o Gosto. Horas depois voltar a vesti-lo.
Telegrama 2
Face ao óbvio colocar questões óbvias e outras menos
óbvias e ver o que acontece. Por vezes, o não acontecer
nada é um acontecimento, uma espécie de bofetada.
Telegrama 3
Nunca esquecer o contexto, a figura esguia ao longe, o
primeiro plano, assim como o peso de Todo o Tempo.
Telegrama 4
Ver o objeto de frente, agarrá-lo pelos cornos e raspá-lo,
camada a camada até ficar sem tinta. E se a pura tinta
sair, ver (milimetricamente) as migalhas do pouco que há.
Telegrama 5
Comparar A com R, T e Z, nunca comparar apenas A
e B. E, se possível, esquecer os amigos de estima e
evitar, sobretudo, insuflar o ego em dose excessiva.
Telegrama 6
Urgente: Tragam-me um crítico sério! O palhaço, o dos
balões insufláveis, não o quero na minha festa privada;
e dispenso os publicitários de meia e terceira tigela.
Telegrama 7
Entre a crítica semanal e estes sete telegramas optar
sempre pela terceira via: juntá-los e acender a lareira!
Este poema NADA deve à crítica (auto)insuflável!
Setembro de 2019
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