MOVIMENTO "VÓS"

Um exemplo bicéfalo de Conservadorismo Insular

 

     O Açoriano Oriental traz hoje dois telegramas sobre o "vós". Duas mulheres, dois textos. O primeiro é muito técnico, como convém a uma verdadeira académica, e o segundo é mais bonito e poético. Aos dois o mesmo "tema": o conservadorismo! Eles atacam sem alvo definido e, ao mesmo tempo, são, eles mesmos, exemplos (pouco refinados) de conservadorismo no seu mais alto grau. Vejamos. No primeiro podemos ler a seguinte parvoíce: "Ai, mal estaremos se um dia pusermos de lado a qualidade do antigo em nome da modernidade do que tem igual mérito". Um texto em que nem Camões, nem Viera nos conseguem salvar! Esta postura vai ao encontro de todas as visões académicas: "o dilúvio, o abismo", o que na realidade não passa de incapacidade de "VER", de ir além daquilo que não se conhece. Ou seja, falta capacidade de reflexão. Pensar sobre as estéticas do nosso tempo sempre deu imenso trabalho, requer imensa inteligência. É por isso que esquecer ou ignorar sempre foi mais fácil. Ora, além disso, o que importa, para além deste conservadorismo subjacente, é que a "Modernidade" já passou há muito (este é o problema número 1) e o antigo nunca foi ou é (problema número 2) recusado por quem defende uma atualização da cultura ou de quem denuncia a pobreza das elites e suas instituições, que salvo algumas exceções, estão entregues aos bárbaros. O segundo texto, mais poético, como já se disse, é mais subtil, mas o argumento é fraco, pela simples razão que eu, cidadão a viver no século XXI, não posso massacrar-me pelo que já foi feito e conquistado no passado. Se a terra já está lavrada, o que acho muito bem, então passemos a lavrar o Homem! Importa-me a vida real, o hoje (que não é exatamente o “Agora”) pela simples razão que não tenho outra vida senão esta. Cruzar os braços, fingir que tudo corre muito bem, que os espaços não cheiram a mofo, que não falta espírito crítico, não, isso não! Nunca! Isso seria compactuar com a "decadência", e, sejamos claros, ela abunda pelas ilhas, a começar pelas suas elites e lideranças. Urge, como bem diz a segunda autora, criar pontes, pontes entre o passado e o futuro, ensinar (sobretudo), ainda que tudo nos possa levar ao Palácio da Ventura, poema de poeta que, esse sim, merece ser lido.




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