TRÊS POEMAS CENSURADOS

NO ANO DA DESGRAÇA 2020

 

                       I

CANTIGA DE ESCÁRNIO

 

 

Outro dia Don’Ana

disse coisa que cá sei

anda ego de banana

nesta cidade de el-rei.

                 Sem que soubesse

                 ali vestiu carapuça

                 de tamanho S.

 

Falou comigo como nada

houvesse e assim também

o fiz sem que lhe dissesse.

E Don’Ana ali julgou ser rica

                 mulher inteligente.

                 Tapou-a a carapuça

                  de tamanho S.

 

Sempre insonsa aqui lhe achei

mas nunca tão pouco sal

em escárnio encontrei.

Don’Ana vê mil coisas sobrepostas

                   mas vai uma aposta

                   que nem acerta numa porta?

                   Sem saber fica entre portas

                   a ver as linhas tortas

                   a esvoaçarem meias postas!

 

Don’Ana da cidade de El-rei

quis gozar o mestre fora da lei.

E agora perguntem lá 

afinal quem é o rei?

  

                  II

 

DONA CRISTA

 

 

Don´Ana
aqui de Coimbra
acha que a sátira
é coisa de surfista
uma coisa ligeira
assim sobre a crista.

 

E vai na volta aplica

a fórmula mística

ao escárnio desta crista.

Mal sabe ela que a sátira

é toda ela

uma enorme faísca

que não obedece

à sua Crista.

 

 

                III

AS SOFISTAS

 

 

Darth Vader entrou pela

porta principal da Disneylândia

e em cada canto o Canto das Cantadeiras

lá estava. As cadeiras todas cheias!

Barraquinha sim barraquinha não

eloquentes batidos de poesia hermética

regurgitações de flores nauseabundas

eram em potes de esmalte distribuídos.

Pote sim pote não

gel e refinado azeite

daquele que brilha muito e

pouco sabor tem

era misturado no

pátio principal também.

Nesse tão alto edifício

construído sobre o joelho

                          um single

era um tosco betão

e o espelho da falsa planta

era na verdade uma planta

uma boneca um tanto ou quanto

insuflável.

 

E as cantadeiras já sem cadeiras

nos seus batidos prantos

alargavam as bocas retorcidas

dos que as ouviam

esses divinos papagaios

e os cocktails do vómito eram vertidos.

Essas equações detríticas sem sentido

revestidas a lânguidos vagidos de ternura.

E as dores mensais de uma

eram as dores semanais da outra

e a cabeleira de uma era a cabeleira da outra.

 

Só restava saber qual das duas

era a verdadeira marioneta a dar à corda.

Pelo som mesclado das palavras

a marioneta só pode ser

siamesa e essa está

 

avariada!

 



 

 

                   

 

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