O TEU MARIDO

 

O teu marido

faz poemas em

linha murcha

(mau presságio)!

São linhas dessas 

que se encontram

facilmente à saída

da missa de

domingo.

Onde? Nas

cortinas

que cobrem as

paredes

onde

todos passam

as mãos.

São “poemas”

- diz ele -

que lembram

penduradas

bananas

(e como tão

bem se aplica a

imagem ao visado)

estendidas por

quatro páginas

a fingir de imponente

a fingir de

poema glorioso -

falhado poema

desde a nascença!

É essa

a condição

a mesma condição

escorregadia do

vómito que tão bem

o leva

à lareira.

Não ao fogo

- porque nem o fogo

estimula -              mas  à

cobertura da lareira.

Aquela gota

que sem

peso cai a pique.

E como é triste esta

visão de um “poema”

gota escorrendo na

pobreza da parede

sem que ninguém o

venha acolher.

Nem mesmo

uma esposa coroada

manhã cedo pelos

louros que tão bem

merece a Grécia.

 

         *

 

Para quê

novo caderno

novo ponto vermelho

entregue a quem de

silêncio muito

entende?

 

Flores!

- o que diria

um urubu de tão ricas

flores?

 

       *

 

E porque outra

mais intensa voz

merecia a tua voz

 - poderosa voz -

eis o

exercício do

equilíbrio além corpo.

Aquele que

sem querer  

esmaga em peso a tua

mísera gota.

E como poderia

uma roda etrusca

- tosca de essência –

conhecer os desígnios

mais altos da

grande arte? Esse

que não distingue

um parafuso de

uma porca.

Pode a estrumeira

sonhar o entendimento

do sol?

 

           *

 

E porque são banais

os versos

laminados

caídos como

gotas de chuva

venho acrescentar

asteriscos

para assim

alargar a

imponência que

me falta neste

pulso [teu pulso!]

neste teu dorido

corno de unicórnio

- vaga tentativa

- inútil - apagar

a mordedura da

cobra sobre o teu

dorso.

Imagem vista

além

paraíso -

cena tão poderosa

de outra pena.

 

                  *

 

E

daquilo que

outrora  achei piada

- pitada de verdade

senti – é hoje ardente

o que não senti.

Nem brilho

nem leveza

nem ar ardente.

E tudo em tubo

deslize ficou de

palhaço em caderno

já ilustrado. Fixado.

Premeditado!

 

            *

 

A esta arte de

estender

ervas pelo chão

como se chama

a desgraça?

Essa tão

facilmente

assim

gozada!

Tão facilmente

assim

apagada!




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